Dia da Consciência Negra: Por que precisamos desse dia?


A data representa a luta e resistência do povo negro que todos os dias precisa mostrar que tem seu valor e lugar na sociedade.




Por Alice Souza, Jornalista da Agência Orca e Correio Nagô
20/11/2022

“Nossa pretensão é de uma sociedade não racial... Estamos lutando por uma sociedade em que o povo deixará de pensar em termos de cor... Não é uma questão de raça; é uma questão de ideias”. (Nelson Mandela)

Durante todo mês de novembro é falado sobre o Dia da Consciência Negra, desde que a celebração foi sancionada ( Lei nº 12.519), tem quem concorde com a data e tem quem acredita que só existe uma raça, a “raça humana”, se esse pensamento fosse verídico, a sociedade não faria segregação por causa do tom da pele do indivíduo.

A data foi escolhida porque foi em 20 de novembro de 1695 que morreu Zumbi,
também chamado de Zumbi dos Palmares, o último dos líderes do Quilombo dos Palmares, em Pernambuco. O quilombola é símbolo da luta do povo negro contra a escravidão, Zumbi foi assassinado durante uma batalha contra as forças da coroa portuguesa, sua morte foi trágica, ele teve a cabeça cortada, salgada e exposta pelas autoridades, com o objetivo de desmentir a crença da população sobre a lenda da imortalidade de Zumbi. Além disso, a exposição era um recado aos negros que ansiavam
pela liberdade.

A luta de Zumbi dos Palmares é lembrada neste dia, para conscientizar a população
negra e da sociedade em geral sobre a força, a resistência e o sofrimento que o povo negro viveu e vive no Brasil desde a colonização. A data também é palco para debates sobre a importância da cultura africana no Brasil e como sua influência corroborou no desenvolvimento da identidade cultural do país, seja por meio da música, religião, gastronomia, entre outros.

Mas será que é necessário ter uma data para lembrar que é preciso respeitar o povo negro? O que para muitos não passa de um feriado, para a população negra que representa 54% da população brasileira, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o dia é um marco na luta antirracista, ato que independente do dia, os negros sabem exatamente o que significa. Ser seguido no supermercado, ser morto por asfixia, não poder comprar em uma loja sem ser seguido e julgado, essa é a realidade do povo negro na sociedade brasileira, uma sociedade que sofre com o racismo estrutural, mas que tenta ignorar que a situação do povo preto é muito diferente do modo de vida dos brancos, logo cai por terra a ideologia do “somos todos seres humanos”, uma vez que na prática, “a carne mais barata do
mercado é a carne negra”. 

Para reconhecer que ter a pele clara trás privilégios e segurança é preciso sair da própria bolha e analisar o meio em que se vive, já entrou em um restaurante caro e observou quantos negros estavam consumindo naquele local? E quantos estavam servindo? Sair da zona de conforto, faz com que o indivíduo entenda a dor do outro.

No decorrer desse texto, percebo que como mulher preta, periférica, sempre precisei explicar a importância do dia 20 de novembro, mas nunca fui questionada por outras datas, como Tiradentes. Ao mesmo tempo, ter espaço e local de fala para trazer esse assunto à tona, mostra como existem pessoas que se importam e que entendem e respeitam o meu
local e lugar de fala. Afinal, mesmo que os racistas pensem o contrário, lugar de preto é onde ele quiser estar.

Houve uma época não tão longevo que tínhamos nossas mãos amarradas, nossa voz silenciada e nossos corpos expostos como animais para o matadouro. E em 1888, com o “fim” da escravidão o povo negro pode gritar e bradar por vitória, porém sem acesso à educação, empregos ou direitos, o preto se viu forçado a continuar trabalhando para o senhor branco e hoje o que difere? Temos direitos, “acessos”, somos maioria e ainda
assim somos minoria para sociedade e pelo poder público.

Que o dia 20 de novembro, sirva para refletir e cobrar políticas públicas e leis que funcionem nesse país, chamado Brasil.

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